O Papa Francisco assinou, nesta quinta-feira, 3, o Decreto da Congregação para a Causa dos Santos que canoniza o beato José de Anchieta. Com a assinatura, o beato, “Apóstolo do Brasil”, é inscrito no álbum dos santos da Igreja por meio da canonização equipolente.
Esse tipo de canonização é uma prática utilizada no contexto de figuras de particular relevância eclesial para as quais é atestado um extenso e antigo culto litúrgico e uma ininterrupta fama de santidade e prodígios.
No dia 23 de abril, está prevista uma coletiva de imprensa exclusiva para os jornalistas brasileiros. No dia 24 de abril, está prevista outra coletiva de imprensa para jornalistas internacionais. Ambas ainda serão confirmadas e divulgadas.
No dia 24 de abril, na Igreja de Santo Inácio de Loyola, em Roma, às 18h, acontecerá uma Missa em Ação de Graças pela canonização de São José de Anchieta, que será celebrada pelo Papa Francisco.
São José de Anchieta
Nasceu em 19 de março de 1534, em São Cristóvão da Laguna, Ilha de Tenerife, Arquipélago das Canárias, Espanha. Entrou na Companhia de Jesus, em 1º de maio de 1551, em Coimbra, Portugal; após ter emitido os primeiros votos, foi enviado às missões do Brasil.
Chegando em solo brasileiro, dedicou-se inteiramente à promoção humana e cristã dos indígenas e, mais tarde, à pastoral dos negros africanos, sempre à luz do Evangelho, perseverando incansavelmente, até a morte, nessa multiforme atividade apostólica.
Fundou o Colégio São Paulo de Piratininga, que deu origem à cidade de São Paulo, e esteve presente na fundação da cidade do Rio de Janeiro. Também se deve a ele a fundação de outras cidades brasileiras. Ordenado sacerdote em 1556, em Salvador (BA), dois anos mais tarde foi designado Provincial de todos os jesuítas do Brasil, cargo em que, durante dez anos, se notabilizou pelas suas qualidades de superior providente e chefe admirável. Nessa função, enviou os primeiros jesuítas para Assunção, no Paraguai, criando as raízes das famosas Reduções.
Escreveu, na língua Tupi, uma gramática e, depois, um catecismo, assim como diversas peças teatrais com finalidade lúdica e catequética. Destaca-se dentre sua vasta obra literária o famoso poema à Virgem Maria, escrito durante seu cativeiro junto aos índios Tamoios, em Iperoig, hoje Ubatuba (SP). Dedicou toda sua vida à evangelização do Brasil e foi agraciado com o título de Apóstolo do Brasil. Faleceu, no domingo, 9 de junho de 1597, em Reritiba, hoje Anchieta (ES).
A Canonização Equipolente
A Canonização Equipolente
A praxe adotada para a canonização de Beato José de Anchieta é aquela da canonização “equipolente”, prática utilizada no contexto de figuras de particular relevância eclesial para as quais é atestado um extenso e antigo culto litúrgico e uma ininterrupta fama de santidade e prodígios. A mesma praxe foi adotada por Papa Francisco para as canonizações de Angela Foligno (9 de outubro de 2013) e de Pedro Fabro (17 de dezembro de 2013).
Formulada pelo Papa emérito Bento XVI, na sua obra De Servorum Dei beatificazione et de Beatorum Canonizatione, tal prática é regularmente adotada pela Igreja, mesmo que não com tanta frequência. Neste tipo de canonização, o Papa estende respectivamente a toda a Igreja o culto de um servo de Deus que ainda não foi canonizado, mediante a inserção de sua festa, com Missa e ofício, no Calendário da Igreja. Trata-se, portanto, de uma sentença definitiva do Papa sobre a santidade do servo de Deus, sentença expressa não com a tradicional fórmula de canonização, e sim por meio de um decreto que determina que a Igreja venere aquele servo de Deus com o culto reservado aos santos canonizados.
Como explicado recentemente pelo cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, em um artigo publicado no jornal vaticano “l’Osservatore Romano”, para este tipo de canonização “são necessários três requisitos: a prova antiga do culto, atestado constante e comum de dignidade histórica de fé sobre as virtudes ou o martírio e a ininterrupta fama de prodígios”.
Caso essas condições sejam suficientes, “o Sumo Pontífice, por sua autoridade, pode proceder à canonização equipolente, ou seja, à extensão à Igreja do recitamento do ofício divino e da celebração da Missa sem qualquer sentença formal definitiva, sem ter cumprido nenhum processo jurídico, sem ter cumprido as consuetas cerimônias”.
Por que o título de “Apóstolo do Brasil?”
Humildade, testemunho de fé inabalável em Deus, esperança e caridade: são estas as virtudes que fizeram de Anchieta um santo. Nascido na Ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, na Espanha, Padre José de Anchieta chegou ao nosso país muito novo. Tinha apenas 19 anos em julho de 1553, e havia entrado para a Companhia de Jesus dois anos antes.
O jovem e doente jesuíta havia já professado seus votos de pobreza, castidade e obediência perpétuas e naquelas terras, tomava consciência de que era finalmente um missionário. Em menos de um ano, dominava o tupi com perfeição.
Tendo assimilado perfeitamente as tradições e valores locais, ensinava os preceitos cristãos utilizando celebrações musicadas ao ritmo de tambores, em aulas ao ar livre. Educava e catequizava; defendia os indígenas dos abusos dos colonizadores portugueses.
A pé ou de barco, Anchieta viajou pelo País inaugurando missões e dando aulas de catequese, gramática e conhecimentos gerais aos índios, colonos e por vezes, até padres.
Das mãos de Pe. Manoel da Nóbrega, o jovem noviço, poucos meses depois da chegada, recebeu a incumbência de fundar um colégio no planalto, com o objetivo de expandir a missão mais adentro da selva. Anchieta logo partiu juntamente com outros companheiros jesuítas. No dia 25 de janeiro de 1554, festa litúrgica da conversão do apóstolo São Paulo, os jesuítas celebraram pela primeira vez a Eucaristia no chamado Planalto de Piratininga. O novo colégio foi dedicado ao Apóstolo dos Gentios. E São Paulo se tornou uma das maiores cidades do mundo.
Os 44 anos em que Anchieta viveu no Brasil foram repletos de dificuldades. Começando pela enfermidade, sua missão implicou em inúmeros riscos de morte. Uma das situações mais arriscadas da vida de Anchieta foi o exílio que viveu em Iperoig, atual cidade de Ubatuba. Em maio de 1563, com o apoio dos franceses, a tribo dos Tamoios se rebelou contra a colonização portuguesa. O jovem missionário se ofereceu como refém enquanto seu superior, Pe. Manoel da Nóbrega, partiu para São Vicente, para negociar um utópico, mas alcançado tratado de paz. Naquele lugar, o apóstolo, aos 29 anos de idade, experimentou um dos momentos mais difíceis de sua existência. Durante seu cativeiro na praia, recebia frequentes ameaças de morte e tentações contra a castidade; era comum aos índios oferecerem mulheres aos prisioneiros, antes de sua morte. Naquele momento de imensa solidão, o jesuíta fez uma promessa a Nossa Senhora: escreveria o mais belo poema já feito em sua homenagem se conseguisse sair casto do cativeiro. Como prova da fé, começou a escrever os versos na areia da praia e assim surgiu o “Poema à Virgem”, em que relata a história da Mãe de Deus. Após cinco meses de confinamento, Anchieta foi libertado. Sem ter cedido à tentação.
Foi ele quem enviou jesuítas para as missões do Rio da Prata que deram origem as famosas reduções do Paraguai no século XVIII. Era um incansável apóstolo que encontrava a Deus nas situações aparentemente mais banais da vida e fazia questão de relatá-las detalhadamente em suas cartas.
Em 1569, fundou a povoação de Reritiba (atual Anchieta), no Espirito Santo. De 1570 a 1573, dirigiu o Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro. Em 1577, foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu por dez anos, sendo substituído em 1587, a seu pedido. Antes, porém, teve de dirigir o Colégio dos Jesuítas em Vitória, no Espírito Santo.
Em 1595, obteve dispensa dessa função e retirou-se para Reritiba, sua querida aldeia no Estado do Espírito Santo, cidade que hoje leva o seu nome onde faleceu em 9 de junho 1597. Aos 63 anos de idade, terminava sua travessia por este mundo o incansável missionário José de Anchieta.